No interior da Catedral

Edifício de três naves, separadas por grossos pilares, transepto, dois absidíolos e capela-mor. Cobertura com abóbada (1513) do decorativismo manuelino, com nervuras em forma de nós e pedras de armas de reis, rainhas e bispos. Dois púlpitos de talha dourada barroca (1721). No transepto abrem-se as capelas de São João Batista e do Santíssimo, com retábulos barrocos (1721) e painéis de azulejos setecentistas e os altares de Nossa Senhora do Rosário e de Santa Isabel, também com estruturas retabulares de sintaxe barroca (1727). No topo do transepto eleva-se o altar do Sagrado Coração de Jesus, de estilo maneirista, executado entre 1677-80, para a capela-mor, de onde foi removido para este local em 1730.

CAPELA MOR

Capela-mor com pintura da abóbada de "grotescos", figurando ao centro Nossa Senhora da Conceição. Retábulo-mor de estilo barroco joanino (1732), em cujo trono se encontra a imagem de Nossa Senhora (séc. XIV-XV) e as esculturas de São Teotónio (séc. XVII) e de São Filipe Néri. O cadeiral (1733) é de madeira de castanho e de pau-preto. 

SACRISTIA

Em 1574 estava concluída a principal obra do prelado D. Jorge de Ataíde, a nova sacristia. As paredes são revestidas por azulejos de padrão e o teto, de madeira, ostenta pintura de grotescos, dos finais do séc. XVII, figurando ao centro as armas de D. Jorge de Ataíde. Do mesmo período é o paramenteiro. Os espelhos, com molduras de talha dourada, são do séc. XVIII.

CAPELA BATISMAL

A pia baptismal (c. 1680), executada em brecha da Arrábida, ocupa o espaço da antiga capela funerária do Bispo D. João Vicente, executada em meados do séc. XV. No arcossólio gótico mais ornamentado encontrava-se o túmulo do prelado e no outro figurava a arca tumular do cónego Pero Gomes de Abreu.

CORO ALTO

A edificação do coro-alto (1513) decorreu da iniciativa do bispo D. Diogo Ortiz de Vilhegas, no contexto de avultadas obras que compreenderam também a abóbada de toda a Catedral e uma nova fachada. Este espaço alcançava absoluta relevância nas cerimónias da Catedral, como local onde se encontrava o coro que assegurava os períodos musicais, enquadrados no ritual litúrgico. Os momentos musicais faziam sobressair as potencialidades estéticas, simbólicas e de comunicação da palavra de Deus, e constituíam uma forma de glorificação e louvor a Deus.

A presença dos elementos identitários deste espaço recoloca o visitante no espaço em conformidade com a sua função e simbolismo: o cadeiral (séc. XVI), mandado executar pelo bispo D. Miguel da Silva e reformado no séc. XVIII, a estante de coro (séc. XVII), o livro de cantochão e a estante de bronze com a forma de pelicano (séc. XV-XVI). 

Num segundo núcleo expõem-se peças representativas da Semana Santa: o paramento de cor roxa (séc. XVIII), a imagem do Ecce Homo (séc. XVII), o candelabro das trevas, as matracas e as ânforas dos Santos Óleos. 

CLAUSTRO SUPERIOR

O claustro superior apresenta uma linguagem muito distinta do inferior renascentista. Foi edificado no período de sede vacante (1720-1741), justificando o Cabido a sua execução para diminuir a exposição aos temporais e as humidades que originavam danos nos altares. Nas superfícies parietais, que intercalam as portas, apresenta revestimento de azulejos, provenientes das oficinas de Coimbra. Nos finais do séc. XX foram colocados neste claustro dois painéis de azulejos, também barrocos, executados no séc. XVIII para o interior da Catedral.

PASSEIO DOS CÓNEGOS

O Passeio dos Cónegos constitui um espaço que estabelece a ligação entre o claustro superior e o edifício onde primitivamente ficava a torre de menagem. Foi edificado no séc. XVIII, concretizando um projeto que já tinha sido equacionado desde o séc. XVI. Constitui uma galeria, com doze colunas toscanas, intercaladas por um varandim de ferro. Num dos muros encontra-se um relógio de sol.

TESOURO DA CATEDRAL

O Tesouro-Museu da Catedral de Viseu foi criado em 1932, para nele serem "incorporados todos os objetos respeitantes ao culto ou a ele destinados que se encontram incorporados no Museu Grão Vasco e sejam provenientes da Sé de Viseu."

Foram incorporadas peças de particular valor artístico, de diversas tipologias e períodos que vão desde o séc. XII até ao séc. XX, que testemunham em representatividade a multiplicidade de funções e de conteúdos que assumiram no contexto das celebrações religiosas, da devoção dos fiéis e da ação do Cabido e do Bispo no exercício dos respetivos ministérios.

O espaço de exposição localiza-se no segundo piso da Catedral. Compreende espaços muito distintos nas suas características arquitetónicas, como o coro-alto e três salas situadas numa das alas do claustro, a que se associam espaços de exterior: o claustro superior e o passeio dos cónegos, particularmente interessantes do ponto de vista arquitectónico.

SALA DO CABIDO

A sala destinada à reunião dos membros do Cabido foi profundamente reformada no séc. XVIII. Articularam-se duas vertentes artísticas, os azulejos e a talha dourada. No conjunto, a sala remete-nos para o serviço e a missão dos responsáveis pelo edifício que simboliza toda a Igreja diocesana, a igreja-mãe de todas as igrejas da diocese: os membros do Cabido, que administram a Catedral, e o bispo, que preside a partir da cátedra a toda a comunidade. Expõem-se o mobiliário de reunião do Cabido (séc. XVIII e XIX) e as insígnias episcopais (anéis, cruzes peitorais, a mitra e o báculo). 

Aqui encontrará duas salas que resultam da adaptação de espaços que foram edificados e utilizados desde o período medieval, pelo que ao nível dos vãos, algumas portas e janelas, subsistem elementos arquitetónicos de cariz gótico. Cristo foi o primeiro grande testemunho para a humanidade, aqui representado por um Menino Jesus (Machado de Castro, c. 1775), e por um presépio dos finais do séc. XVIII. 

Ao centro, a Urna do Santíssimo, de talha dourada e espelhos (séc. XVIII). Apresentam-se várias esculturas, de diferentes épocas: duas mártires, Santa Bárbara, Santa Catarina e Santo Agostinho (séc. XVIII), Santo Inácio de Loyola e São Francisco (séc. XVII) Santa Isabel (sé. XVI). Os dois cofres relicários do séc. XIII, de "Limoges", a cabeça de Santa Úrsula (séc. XIV) e o Santo Lenho são representativos dos relicários que eram colocados à veneração dos fiéis. Entre as peças da celebração destacam-se a Custódia, de 1533, oferecida por D. Miguel da Silva, e o Evangeliário, cujo miolo data de finais do séc. XII, inícios do XIII, e as capas, com relevo em prata, do séc. XV.

A varanda da sala do cabido e o passeio dos cónegos, para além do interesse arquitectónico, constituem dois extraordinários miradouros, a partir dos quais se pode fruir da vista panorâmica sobre a cidade de Viseu, numa abrangência urbana e natural. Dependendo da hora do dia e das condições atmosféricas estes dois locais convidam a parar, a estar e a observar o encanto e a beleza da cidade.